quarta-feira, 28 de abril de 2010

Vinte e oito

Ela mentiu com um desprezo bastante singular.

Mentiu friamente, descaradamente. Coitado de Carlos Drummond de Andrade, nada tinha haver com o desastre e com um simples estalar de ‘mentiras prontas’ tornou-se o Protagonista da história, logo ele que é dono de uma obra madura e escreveu “ Amar se aprende amando” – melhor obra, melhor leitura e sem dúvida alguma uma obra completa, acabou sendo metido em uma situação constrangedora que me gerou uma pequena/complicada dor de cabeça mista de um enérgico conflito ‘inter-familiar’. Enfim, no fim tudo foi colocado em seus devidos lugares. Apesar de ter ficado durante algumas horas pensando no mal sucedido/frustrante reencontro ela pôde sentir um certo alívio e sorriu intimamente para o conforto do seu coração. É óbvio que não fui honesta – com ele e com minha consciência, meu querer não é tão forte pra combater meus impulsos, para detê-los. Mesmo sendo conhecedora das próprias fraquezas e do desamor alheio não se deteve em omitir, excluir, reprimir, eliminar, afastar, abolir, ‘desinventar’ qualquer emoção/euforia que PODERIA estar sentindo naquele momento, ela era rápida e acima de tudo era ardilosa, aos extremos. Mesmo sabendo dos riscos de uma futura mágoa ela não se conteve em deixar escorrer dos seus olhos aquele saboroso veneno, aquele que tiraria a paciência e o deixaria sem dormir e muito menos sem concentração para ler/estudar. Era maliciosa, ardilosa mesmo. Tenho certeza do brilho ofuscante que reluzia do seu olhar mascarado, era como se as imagens remetidas ao seu olhar fizessem uma massagem indiana no seu ego e toda tensão fosse transformada em raio de luz, em um verdadeiro ‘brilhantismo’ no seu olhar. Desistiu de mentir pra si mesma e saiu naquela noite como se fosse a primeira noite.



Toada do amor

“E o amor sempre nessa toada:

briga perdoa perdoa briga.

Não se deve xingar a vida,

a gente vive, depois esquece.

Só o amor volta para brigar,

para perdoar,

amor cachorro bandido trem.

Mas, se não fosse ele, também

que graça que a vida tinha?

Mariquita, dá cá o pito,

no teu pito está o infinito.”

(Carlos Drummond de Andrade)


quinta-feira, 22 de abril de 2010

Vinte e nove

Noite passada sonhou com você, sonhou e não acreditou no que tinha sonhado.

Ah, FLORES! Flores, F-L-O-R-E-S, flores... Três assustadores buquês, três ramalhetes fúnebres! Como odeia flores, como sempre odiou. Como se não bastasse serem rosas ainda vieram em embrulhos azuis, um azul gritante! Um azul escancarado, vivo, mórbido. Um azul que lhe fazia lembrar o sorriso azul elétrico/gritante dele, o jamais esquecido sorriso. Droga, o sorriso! Acompanhado das flores vieram cartas, fotos, ‘pequenas lembranças’, e ele. Acordou com o coração disparado e com medo das recordações que lhe forçavam ver todo aquele passado, sentia-me verdadeiramente desnorteada, sem direção alguma. Nem mesmo a luz do sol conseguia chegar aos meus olhos, aos pensamentos assombrados e ao frio coração. Sabemos que não é amor, sei que não me ouves e que não procuro te ler ansiosamente como sempre fiz. Talvez, sempre soubemos, sempre nos foi permitido enxergar e tão pouco conseguimos ver. Tão pouco nos foi preciso ver. Tão pouco... nos bastou. Precisava de café, precisava esquecer, precisava de um banho e precisava ouvir a voz dele. Se conteve, sentiu-se superior pelo autocontrole que lhe firmava os pés no chão e os dedos no controle; sentiu uma angustia descomunal, cheguei a sentir até uma leve ‘dor’ no peito – talvez, seja um começo de amargura, sentiu tantos desconfortos que transbordou, uma parte dela teve que transbordar. Não agüentei a pressão de estar com os pés fincados no chão e nem tampouco a inutilidade de tantos canais da TV aberta e liguei para a sua casa... um alívio misto de ansiedade extrema fez os segundos transformarem-se em DESESPERO. A voz não era a dele, a respiração não estava no ritmo certo e eu desliguei. Pensei, pensei, pensei que isso nunca vai mudar, pensei que ele nunca mais iria me atender, pensei o quão estava sendo idiota, pensei que não tem importância os meus sonhos noturnos, pensei e adormeci no sofá de gelo. Acordei e pra minha surpresa tive outros sonhos. Sonhos prazerosos e silenciosos. Sonhos tão reais que os transformei em realidade, na mesma tarde. O sonho anterior foi levemente revestido por outro mais concreto, como sempre aconteceu. As flores murcharam, não passaram de saudade esquecida. Como sempre acontece com as míseras/repugnantes flores, murcham.

Não me cabe enxergar tantos sinais.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

e amo o pecado, a flor do pecado.

por que pensar no efêmero da rosa? Guarda sua beleza e esquecerás que ela murchou, mas eu sei que não murchou, só está indo dormir, boa noite.